às vezes tenho muito pra falar, e nada acontece. mantenho-me calada, o verbo volta da garganta, transforma-se em formigas no estômago. às vezes tenho o mundo a andar, e nada acontece. mantenho-me imóvel, o peso do corpo deixa os pés, sento, repouso, esqueço. às vezes tenho dezenas de cartas, emails, bilhetes, recados, que quero escrever, mas ao invés disso, nada acontece. mantenho-me muda, as tentativas transformam-se em rabiscos, desenhos infantis e cheios de espirais, ou, repetidamente, palavras soltas que só eu sei o que significam. às vezes, tenho tudo a fazer, e nada acontece. medrosa, preguiçosa, mantenho-me ali, no mesmo lugar de antes. paro, estaciono, até que não saiba mais onde ir. ou, que não haja mais tempo, e tudo é feito da forma mais rápida e que não me satisfaz. Desde há algum tempo, a procrastinação me é um sério problema.