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Mostrando postagens de 2010
O gato e o escuro Mia Couto Vejam, meus filhos, o gatinho preto, sentado no cimo desta história.    Pois ele nem sempre foi dessa cor. Conta a mãe dele que, antes, tinha sido amarelo, às malhas e às pintas. Todos lhe chamavam o Pintalgato. Diz-se que ficou desta aparência, em totalidade negra, por motivo de um susto.    Vou aqui contar como aconteceu essa trespassagem de claro para escuro. O caso, vos digo, não é nada claro. Aconteceu assim: o gatinho gostava de passear-se nessa linha onde o dia faz fronteira com a noite. Faz de conta o pôr do Sol fosse um muro. Faz mais de conta ainda os pés felpudos pisassem o poente. A mãe se afligia e pedia: - Nunca atravesse a luz para o lado de lá. Essa era a aflição dela, que o seu menino passasse além do pôr de algum Sol. O filho dizia que sim, acenava consentindo. Mas fingia obediência. Porque o Pintalgato chegava ao poente e espreitava o lado de lá. Namoriscando o proibido, seus olhos pirilampiscavam. Certa vez, inspirou c

feriado

Há quase dois dias que meu ouvido não me deixa esquecer que ele existe. E é, definitivamente, como um rio caudaloso e com correnteza. Há quase dois dias que o tempo em que estou em casa é passado na cama, com o computador ou com o violão no colo. E sempre com bichos ronronantes. O feriado dá sono. E dormir é um bom modo de esquecer esse ruído que não me abandona há dias.

rascunho

Faz mais de duas horas que parece que tenho um rio dentro do ouvido... já me distraí com outras coisas, mas a água não pára de correr ruidosamente dentro da minha cabeça... esse som angustiante pra um fim de dia de suposto descanso me fez ter vontade de escrever. mas escrever assim, sem muito rumo nem receita. sem ser poema, sem ser prosa. com jeito de só uma prosa de vizinhos e chimarrão, sem comprometimento com modos prévios ou opinião alheia. tenho agora duas felinas por perto, um violão dormindo do meu lado na cama, o ruído da água do meu rio e o ruído da água que uma das gatas bebe na tigela. tenho lembrança de creme dental no céu da boca, o que me faz lembrar que pretendia logo dormir, tenho a respiração frouxa e os dentes presos por metais que fazem a cabeça doer. tenho o calor do laptop na barriga e as mãos um tanto ressecadas de limpar as flores de corte no trabalho. tenho um diálogo na lembrança. já não sei se isso é um rio ou a água do chuveiro quando uso a touca recheada de

Março, 20, 01:00

Inspirando nuvens, Expirando chuva, Transpirando neve. Com as ideias e as mãos quase vazias. Só restam uns poucos grãos Do que um dia eu quis ser São grãos de uma especiaria cujo perfume e sabor não abandonam meu olfato e paladar. Não sei como se chama, mas não desaparece assim tão fácilmente. Tenho tentado escrever contos, crónicas, novelas especialmente músicas. Musicar poemas velhos, expurgos, palavras brotadas, vomitadas, perdidas dedicadas delicadas e grosseiras. E velhas, mas minhas, saídas dos sótãos e porões e pés de escada. Odradeks idosos. Insistentes e incovenientes. As vezes eu penso que seria melhor não ter passado Ser eu, hoje, só Só de pensar nas tantas coisas que iniciei e não segui adiante, da vontade de não ter sido coisa nenhuma assim não teria tantas "se eu fosse" Assim haveria ignorância, mas sossego.

...

Às vezes, as coisas não são bem como a gente quer. Às vezes, tudo acontece de um jeito diferente daquele que a gente gostaria. E, o que deveria nos fazer bem, faz um mal tremendo. Mas, nem por isso nos é permitido desistir ou deixar de lado por um tempo. Férias nem sempre são opcionais. ************* Eu estou realmente precisando de férias.