Toda vida tem um fim. Sem exceções, todos morremos, um dia. Breve ou daqui a muito tempo. Mas morremos. Há quem diga, e eu até considero coerente, que o que diferencia o homem dos outros seres vivos é a certeza de sua finitude (e não me venham com essa de que o homem é o único ser vivo que "pensa"). E, talvez seja por isso, metemos os pés pelas mãos durante a vida toda. É o fato de querer fazer tudo agora - já que, sabe-se lá, podemos morrer nos próximos dez minutos - que nos impulsiona a não ter paciência, a não querer esperar "as coisas se ajeitarem"? Claro que isso não se aplica a todos - e, em grande parte das situações, nem a mim.
Sei que não se é sempre assim impaciente, o que me parece triste até. Viver aos pouquinhos, pensar só em passar um dia depois do outro, do outro, do outro... Sem crescer em nada, sem mudar nada, sem ganhar nada. Ganhar dinheiro pra comer, comprar roupa, pagar aluguel, luz, telefone, internet, abastecer o carro, comprar uma TV nova, trocar de carro, mudar os móveis da casa. E ficar sempre no mesmo lugar. Na mesma casa, com a mesma cabeça, com as mesmas vontades, com o mesmo olhar. Sempre.
Sem perceber que falta alguma coisa. Alguma coisa sempre falta. Falta estar surpreso, falta ficar maravilhado, falta gargalhada (de assistir Zorra Total não conta - se é que isso é possível), falta ver mais do que o trabalho a fazer, falta ouvir mais do que o choro das crianças e a conversa da vizinha, falta provar mais do que o arroz de todo dia. Falta banho de chuva, falta vinho, falta salto na água, falta passeio de madrugada, falta música alta, falta.
E falta, mais que tudo, coragem pra abandonar o tão certo, o garantido, em troca de sabe-se lá o que, que pode - ou não - suprir as tantas faltas. E acomodamo-nos. Releva-se a finitude, e se deixa pra amanhã. Somos ainda muito jovens pra pensar em fim. Até que, um dia desses, começa a faltar algo que tínhamos de sobra: tempo. Que, implacavelmente, traz pendurado em suas costas a impermanência.
Talvez devamos meter os pés pelas mãos às vezes, correndo o risco de arrependimento e culpa - mas também de suprir ao menos um pouco das faltas - porque esta pode ser uma forma de distrair o tempo.
P.S. A impermanência, a vida que chegou ao fim neste meu luto, é da minha cachorrinha, a Graça, que viveu quase 12 anos e, infelizmente, adoeceu irremediavelmente e sua dor constante não nos deixou outra alternativa senão o sacrifício. Minha fraqueza não me permitiu estar presente. Ela é, agora, um anjinho-cão que vai deixar muitas saudades.
Sei que não se é sempre assim impaciente, o que me parece triste até. Viver aos pouquinhos, pensar só em passar um dia depois do outro, do outro, do outro... Sem crescer em nada, sem mudar nada, sem ganhar nada. Ganhar dinheiro pra comer, comprar roupa, pagar aluguel, luz, telefone, internet, abastecer o carro, comprar uma TV nova, trocar de carro, mudar os móveis da casa. E ficar sempre no mesmo lugar. Na mesma casa, com a mesma cabeça, com as mesmas vontades, com o mesmo olhar. Sempre.
Sem perceber que falta alguma coisa. Alguma coisa sempre falta. Falta estar surpreso, falta ficar maravilhado, falta gargalhada (de assistir Zorra Total não conta - se é que isso é possível), falta ver mais do que o trabalho a fazer, falta ouvir mais do que o choro das crianças e a conversa da vizinha, falta provar mais do que o arroz de todo dia. Falta banho de chuva, falta vinho, falta salto na água, falta passeio de madrugada, falta música alta, falta.
E falta, mais que tudo, coragem pra abandonar o tão certo, o garantido, em troca de sabe-se lá o que, que pode - ou não - suprir as tantas faltas. E acomodamo-nos. Releva-se a finitude, e se deixa pra amanhã. Somos ainda muito jovens pra pensar em fim. Até que, um dia desses, começa a faltar algo que tínhamos de sobra: tempo. Que, implacavelmente, traz pendurado em suas costas a impermanência.
Talvez devamos meter os pés pelas mãos às vezes, correndo o risco de arrependimento e culpa - mas também de suprir ao menos um pouco das faltas - porque esta pode ser uma forma de distrair o tempo.
P.S. A impermanência, a vida que chegou ao fim neste meu luto, é da minha cachorrinha, a Graça, que viveu quase 12 anos e, infelizmente, adoeceu irremediavelmente e sua dor constante não nos deixou outra alternativa senão o sacrifício. Minha fraqueza não me permitiu estar presente. Ela é, agora, um anjinho-cão que vai deixar muitas saudades.
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