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Mostrando postagens de novembro, 2010
O gato e o escuro Mia Couto Vejam, meus filhos, o gatinho preto, sentado no cimo desta história.    Pois ele nem sempre foi dessa cor. Conta a mãe dele que, antes, tinha sido amarelo, às malhas e às pintas. Todos lhe chamavam o Pintalgato. Diz-se que ficou desta aparência, em totalidade negra, por motivo de um susto.    Vou aqui contar como aconteceu essa trespassagem de claro para escuro. O caso, vos digo, não é nada claro. Aconteceu assim: o gatinho gostava de passear-se nessa linha onde o dia faz fronteira com a noite. Faz de conta o pôr do Sol fosse um muro. Faz mais de conta ainda os pés felpudos pisassem o poente. A mãe se afligia e pedia: - Nunca atravesse a luz para o lado de lá. Essa era a aflição dela, que o seu menino passasse além do pôr de algum Sol. O filho dizia que sim, acenava consentindo. Mas fingia obediência. Porque o Pintalgato chegava ao poente e espreitava o lado de lá. Namoriscando o proibido, seus olhos pirilampiscavam. Certa vez, inspirou c

feriado

Há quase dois dias que meu ouvido não me deixa esquecer que ele existe. E é, definitivamente, como um rio caudaloso e com correnteza. Há quase dois dias que o tempo em que estou em casa é passado na cama, com o computador ou com o violão no colo. E sempre com bichos ronronantes. O feriado dá sono. E dormir é um bom modo de esquecer esse ruído que não me abandona há dias.