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Mostrando postagens de junho, 2008

Outono

O bom do outono é comer bergamota recém colhida no solzinho do meio-dia. Sentir o cheiro cítrico do fruto amarelo. Cuspir as sementes sentado na grama. Com o sol bem na cara. E o cheiro do frio nas mãos.

Boneca de pano

Sou feita de pedaços Que já foram de outros. De cores, e estampas diferentes entre si. Meus pés são azuis, de algodão azul. Com bolas brancas. Minhas mãos, seda vermelha. O corpo, diversos pedaços que vêm de muitos lugares. A cabeça, algodão rosa com flores miúdas e brancas (já foi um vestido rodado). Os olhos, botões grandes que restaram de velhas reformas. Os cabelos, lãs de muitas cores. E o corpo, muitos pedaços. Herdados de muitos outros. Em cada um, uma memória. Em cada um, uma saudade. Eu sou feita de muitos. Que estão todos aqui. Sendo levados e sentidos. Retalhos que me constróem.

Saber Viver

Não sei... Se a vida é curta Ou longa demais pra nós, Mas sei que nada do que vivemos Tem sentido, se não tocamos o coração das pessoas. Muitas vezes basta ser: Colo que acolhe, Braço que envolve, Palavra que conforta, Silêncio que respeita, Alegria que contagia, Lágrima que corre, Olhar que acaricia, Desejo que sacia, Amor que promove. E isso não é coisa de outro mundo, É o que dá sentido à vida. É o que faz com que ela Não seja nem curta, Nem longa demais, Mas que seja intensa, Verdadeira, pura... Enquanto durar (Cora Coralina) Lindo.

Luto

Toda vida tem um fim. Sem exceções, todos morremos, um dia. Breve ou daqui a muito tempo. Mas morremos. Há quem diga, e eu até considero coerente, que o que diferencia o homem dos outros seres vivos é a certeza de sua finitude (e não me venham com essa de que o homem é o único ser vivo que "pensa"). E, talvez seja por isso, metemos os pés pelas mãos durante a vida toda. É o fato de querer fazer tudo agora - já que, sabe-se lá, podemos morrer nos próximos dez minutos - que nos impulsiona a não ter paciência, a não querer esperar "as coisas se ajeitarem"? Claro que isso não se aplica a todos - e, em grande parte das situações, nem a mim. Sei que não se é sempre assim impaciente, o que me parece triste até. Viver aos pouquinhos, pensar só em passar um dia depois do outro, do outro, do outro... Sem crescer em nada, sem mudar nada, sem ganhar nada. Ganhar dinheiro pra comer, comprar roupa, pagar aluguel, luz, telefone, internet, abastecer o carro, comprar uma TV nova, tr