Pular para o conteúdo principal

Dia de chuva

A felina espia pelo vidro canelado da janela. O dia úmido e preguiçoso lá fora - e aqui dentro - não a permite dar um passeio de gato, com buracos cavados, troncos de árvores e tudo mais. Os olhos e as orelhas atentos ao mundo verde do pátio, os pensamentos na vontade de colocar os pés na terra.
Em silêncio, a felina somente observa - somente. Do jeito sereno que felinos conseguem observar, mantém seus olhos amarelos e as pupilas - linhas negras - na imagem difusa de lá fora.
E eu, fechada também na interior de um cubo com janelas. À espera de que algo aconteça, deixando as coisas acontecerem. E o tempo, que passa - do mesmo jeito de sempre, sem perceber - traz a chuva, o escuro, e o sono.
E amanhã é mais um dia. Mas, talvez, dessa vez, o sol permita à felina um passeio pela terra fofa do pátio.
Quanto a mim, ainda não sei.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Balada de Agosto Lá fora a chuva desaba e aqui no meu rosto Cinzas de agosto e na mesa o vinho derramado Tanto orgulho que não meço O remorso das palavras Que não digo Mesmo na luz não há quem possa Se esconder do escuro Duro caminho o vento a voz da tempestade No filme ou na novela É o disfarce que revela o bandido Meu coração vive cheio de amor e deserto Perto de ti dança a minha alma desarmada Nada peço ao sol que brilha Se o mar é uma armadilha Nos teus olhos (Zeca Baleiro)
Professar, profetar, procurar Pouco a pouco adentrar Pequeno, grande, infinito particular Muitas mentes, muitas vidas Muita alma pra explorar. Ser, viver, humanizar. Ser brincante, ensinante E aprendente no flutuar.

Elurofilia

O gato é uma lição Já viu gato amestrado, de chapeuzinho ridículo, obedecendo às ordens de um pilantra que vive às custas dele? Não! Até o bondoso elefante veste saiote e dança a valsa no circo. O leal cachorro no fundo compreende as agruras do dono e faz a gentileza de ganhar a vida por ele. O leão e o tigre se amesquinham na jaula. Gato não. Ele só aceita uma relação de independência e afeto. E como não cede ao homem, mesmo quando dele depende, é chamado de arrogante, egoísta, safado, espertalhão ou falso. "Falso", porque não aceita a nossa falsidade com ele e só admite afeto com troca e respeito pela sua individualidade. O gato não gosta de alguém porque precisa gostar para se sentir melhor. Ele gosta pelo amor que lhe é próprio, que é dele e ele o dá se quiser. Quem não se relaciona bem com o próprio inconsciente não entende o gato. Ele aparece, então, como ameaça, porque representa essa relação precária do homem com o (próprio) mistério. O gato não se rela