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Política...

Tenho pensado bastante a respeito de política, coisa que pouco fiz na vida até pouco tempo atrás. Nunca gostei disso, achava uma chatice e preferia fazer de conta que nem era comigo. Preferia não falar, não pensar, não me envolver, em parte porque não tinha paciência pra acompanhar os acontecimentos políticos, em parte porque o pouco que acompanhava me deixava geralmente nauseada. É patifaria pra tudo quanto é lado.
De um tempo pra cá, porém, entendi que é justamente essa náusea que a maioria do povo sente quando se trata disso, afastando a maior parte das pessoas do pensamento e da discussão política que permite tamanha patifaria. Como não falar de política (ou ao menos refletir a respeito), já que minha vida é diretamente influenciada por ela?
Dois fatos me levaram a prestar mais atenção nos acontecimentos políticos que me cercam: um, bem próximo. Voltei a morar na minha cidade natal, pequena, de 8000 habitantes, onde todos se conhecem, aquela coisa. Aqui, as pessoas são... como posso dizer... não politizadas, mas politiqueiras. Não generalizo, mas uma boa parte delas é. O que tu és pouco importa se tu simpatizas com tal partido político. Algo do tipo: "Fulano é boa pessoa, o problema é que é P** (Partido qualquer um)". Deu pra entender, né. Em época de eleição, então, a coisa multiplica. Se há candidatos, o povo se envolve de tal maneira que a cidade se torna digna de comparação com os mais fervorosos westerns. E algumas pessoas ficam prejudicadas pro resto da vida por isso.
Digo se há candidatoS, já que, neste ano, ao menos pra economia de balas de revólver, a cidade não terá rivalidades, mas um consenso.
Na minha ingenuidade política, sempre que ouvia falar em alguma cidade onde as eleições se dariam dessa forma, pensava: "Ah, interessante, as pessoas são conscientes e civilizadas". Pura, total e estúpida ingenuidade. Ao menos no caso daqui, o que se pôde perceber foi uma reunião das lideranças políticas da cidade (ou não, em grande parte dos amigos, parentes ou relacionados por interesses com estas), definindo que, "se tal e tal secretaria for pro meu lado, eu aceito", ou "desde que eu tenha tais e tais benefícios...". Ou seja, a população, necas. O que há de verdade é um consenso puramente político (ou melhor, politiqueiro).
Assim, tira-se do povo um direito legítimo e constitucional: o direito de escolha do prefeito de sua própria cidade, pra qual pagam impostos e na qual criam seus filhos. Uma opção, na verdade, as pessoas daqui ainda têm. Não sei bem como funciona, mas, aparentemente, mais de 50% de votos brancos podem indicar que o consenso não teve o apoio da população. O problema, nesse caso, é levar ao conhecimento da população que é possível dizer, caso seja esse o desejo, não. Campanhas pra isso, certamente não haverá... Veremos o que pode acontecer nesse pedacinho do mundo.
Outro fato que tem me feito pensar no papel da política na minha vidinha, vem desde que decidi, assim como meus pais, tornar-me professorinha. No Rio Grande do Sul, professores não são bem pagos (será que em algum lugar do Brasil eles são?) Mas, enfim, com a proposta de piso salarial do magistério pelo governo federal em R$ 900 (mais ou menos) para 40 hs/semana (o que já é, convenhamos, menos que o merecido) fez com que a excelentíssima governadora do estado tomasse frente em um "movimento" de governadores contra esse piso. Pode? Ainda, neste ano, foram fechadas escolas no estado inteiro, inflando as turmas e obrigando os professores a controlar 40 crianças em uma sala de aula, e ainda tendo que oferecer "ensino de qualidade!". Ao mesmo tempo, foi aprovado pela câmara dos deputados o reajuste do salário desta em 143%! É impressão minha, ou o negócio tá meio incoerente? Eu fico me questionando às vezes, nessas horas de psicologia de buteco, se a Yeda não teve algum trauma na infância envolvendo algum professor, ou, sei lá, algum amor platônico não correspondido por um professor de ginásio...
Enfim, esse falatório todo é pra confessar uma coisa: me envergonho de nunca ter sido politizada. De não correr atrás pra saber o que se tem feito, de ficar isolada nas minhas coisinhas e esquecer que coisas maiores mexem mais na minha vida do que essas atividades solitárias, que podem, devem, dividir o espaço do meu pensamento.
A política não deve ser um fardo, e sim um assunto desse meu dia-a-dia de artista - professora. E de todo mundo, oras!

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