Pular para o conteúdo principal

Pseudo-epitáfio de quase-sono.


Eu queria escrever um poema bem bonito. Não, talvez uma letra de música pra quando eu aprendesse de verdade a tocar violão. Eu pretendia, juro, escrever uma carta, um conto, uma crônica. Sério! Eu ia publicar um livro. Ou gravar um disco. Já sei, fazer um filme. Um curta, com diálogos fluidos, sacadas inteligentes e personagens descolados e interessantes. Ia costurar minhas próprias roupas, cortar meu próprio cabelo, acordar muito cedo pra ver a luz de quando o sol nasce, passear no parque e subir nas árvores, aprender muitas muitas muitas coisas. Ia comer sorvete no inverno emboladinha embaixo de muitos cobertores e roçando os pés nas pernas de alguém bem especial. Andar despreocupada na chuva de tardes de calor, jogar fora porcarias inúteis e ficar somente com velharias charmosas. Eu ia fazer tantas coisas, dançar tantas músicas, ir a tantos lugares, provar tantos gostos cheiros texturas. Ia dizer um milhão de palavras bonitas dentro de ouvidos. Ia dar muitos beijos e abraços e mexidas nos cabelos e sorrisos sutis de "está tudo tão bom". Ia. Queria. Pretendia. Faria. Diria. Seria bom. Não faria mal. Ou sim, e daí? E vou, ainda vou sim, espere. E espero. Mas não agora. Antes de tudo isso, preciso dormir porque tá tarde e tenho aula amanhã de manhã.

Se deixar de fazer aquilo que faz bem, quem se esconde aqui? Por que deixar o medo ou a preguiça ou o conformismo tirarem a ânsia de fazer sempre um pouquinho mais?

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Balada de Agosto Lá fora a chuva desaba e aqui no meu rosto Cinzas de agosto e na mesa o vinho derramado Tanto orgulho que não meço O remorso das palavras Que não digo Mesmo na luz não há quem possa Se esconder do escuro Duro caminho o vento a voz da tempestade No filme ou na novela É o disfarce que revela o bandido Meu coração vive cheio de amor e deserto Perto de ti dança a minha alma desarmada Nada peço ao sol que brilha Se o mar é uma armadilha Nos teus olhos (Zeca Baleiro)
Professar, profetar, procurar Pouco a pouco adentrar Pequeno, grande, infinito particular Muitas mentes, muitas vidas Muita alma pra explorar. Ser, viver, humanizar. Ser brincante, ensinante E aprendente no flutuar.

Elurofilia

O gato é uma lição Já viu gato amestrado, de chapeuzinho ridículo, obedecendo às ordens de um pilantra que vive às custas dele? Não! Até o bondoso elefante veste saiote e dança a valsa no circo. O leal cachorro no fundo compreende as agruras do dono e faz a gentileza de ganhar a vida por ele. O leão e o tigre se amesquinham na jaula. Gato não. Ele só aceita uma relação de independência e afeto. E como não cede ao homem, mesmo quando dele depende, é chamado de arrogante, egoísta, safado, espertalhão ou falso. "Falso", porque não aceita a nossa falsidade com ele e só admite afeto com troca e respeito pela sua individualidade. O gato não gosta de alguém porque precisa gostar para se sentir melhor. Ele gosta pelo amor que lhe é próprio, que é dele e ele o dá se quiser. Quem não se relaciona bem com o próprio inconsciente não entende o gato. Ele aparece, então, como ameaça, porque representa essa relação precária do homem com o (próprio) mistério. O gato não se rela