Minha mania de guardar papéis da vida toda às vezes serve pra algo. Eis um pouco mais da Lara de Lemos, como prometido. Encontrei em folhas amareladas, copiados à caneta. Posto alguns deles, já que tem bem mais que o que lembrava.
Vidafora
Tudo o que vivi
Vidafora
pranto
pressentimento
cansaço
febre tersã
terçol
torcicolo
tropeço
dor de corte
cotovelo
dor de dente
dor de vazio
de abandono
de ferida
de apostema
foi semente
deste verso
foi adubo
de poema.
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Urdidura do canto
Vivo de olhos atentos.
No meio do vento
recomponho palavras
coso pensamentos.
Escondo minhas asas
nas telhas do tempo.
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Poema do amor demais
Que faço do meu poema
Recado para ninguém?
Que faço dessa canção
nos limites do caminho
- esquife, cal, terra, chão?
Que faço do vôo cego
dessa fúria
dessa sanha
de abraçar o inabraçável
e transcender o meu ontem?
(Amar é transbordar
é transgredir
é ampliar-se
até as imprevisíveis fronteiras
do homem)
Que faço, por Deus, que faço
dessa dor do muito?
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Da alegria
Todos os ontens passaram
sem deixar traço
ou traça
Agora só amanhãs
claros, simples
de graça.
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