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Mostrando postagens de julho, 2008

Da série "velharias" III

Quando exigiu que eu fosse embora, sozinha, esqueço-me, perco-me, fico pouco no lugar. Tudo sai do lugar. Não retorna mais. Nem retornará. Já que não há remédio, não há solução pros nossos problemas. Se o tédio toma conta de nós (todos), apenas restaram olhares. Pouco sensíveis, frios e distantes. Feios e distraídos. Antes, não se sabia como era. Como ficamos nós agora? Lá fora, tudo continua acontecendo. E, nós, continuamos vivendo sós.

Pan-tone

Todas as cores são iguais. E as nuances não são grande coisa. O que definia já não há mais. Quem é o mocinho, que é o vilão? Descubro meus erros ocultos nos teus. E abro meus olhos, a essa altura já secos. É pena, não deu tempo, adeus! É hora de ir, o tempo é tão curto. Os bares todos já estão fechados, não há mais onde beber. E os meus remorsos foram atropelados. Não tenho mais nada a lhe dizer: silêncio é o que resta. E um céu nublado. Fuja da chuva, mantenha-se mudo. Mantenha-se calado. E, quando a luz começar a surgir um novo dia, pode, talvez, nos redimir. Não durma, siga em frente. Há um longo dia pra viver, ainda. Siga, sem parar pra pensar porque, o que resta, geralmente é nada.

Da série "velharias" II

Há muito pouco a ser feito quando os muitos meios já perderam a eficiência. O peito não arde, tampouco pulsa. E ver, é o mesmo que estar longe. E o estar longe, é o mesmo que desconhecer. E desconhecer, é o mesmo que não haver. Não houve nada, não há com que se preocupar. O ignorar não faz diferença. Diferente é algo bem melhor. Muito melhor. Melhor que o que parecia bom. Parecia. As aparências sempre enganam. E o pior de tudo é enganar-se. Deixar-se levar pelo bonito, o belo é de outro jeito. Bonito nem sempre faz bem, engraçado nem sempre convém. Boa idéia não garante bom dia, nem boa noite, nem bom sono. Sonho não é mais o que salva a pele. E pele, não arde, não treme, não arrepia. Resta saber o que há. O que havia, em um dia de novos erros.

Da série "velharias" I

Meu bem, foi um erro Acabamos de nos despedir. E agora, a despedida é só o que temos em comum. Hoje, já não há mais maneiras de viver bem. Um dia, certamente, haverá. Mas não há. Há acasos, casos, coisas. Novas e velhas que não páram de vir. Nos fazem rir, nos fazem ver, o que cada um é capaz de fazer. E a cada passo, cada ponto, aponta nossos melhores caminhos. Como coisas. Aquelas boas é más. Mas já não há caminhos, nem melhores nem piores. O que se quer é ficar bem. Pra sempre não, um dia, uma certa ocasião. Um pouco dos novos e velhos corações que não são coisas. E que um dia, certamente, Passarão a ser o que temos em comum. . . Em um caderno do ano passado

O poema

De onde nasce o poema? Que mistério é esse? Do nascimento lírico, febril, urgente? O poeta a todo tempo é grávido De cor e palavras, de vírgula, ponto e luz.

Sai

Desliga Essa TV e vem me ver Desiste do ócio, da massa, e da novela chata que tanta gente insiste em ver. Sai pra rua agora e olha ao teu redor. As pessoas por mais piegas e bobas que pareçam são melhor. Melhor que pontinhos coloridos. Formando objetos intocáveis, frígidos, abstratos. Anda, corre, sente o cheiro da cidade. Coloca os pés na grama terra areia ou no mar. Colhe conchas, caramujos, folhas secas, sorrisos e olás. Assiste ao entardecer, aos passeios e ao luar. Então apaga essa tela, todas elas, vem me ver. Ficar de portas fechadas janelas fechadas, mãos fechadas. Há muito a perder. O vento, o cheiro do café no fim da tarde. Sai pra rua, não deixa de existir. No toque, na voz, na realidade.