Talvez ela tivesse perdido um pouco aquela imensa vontade que tinha de crescer. Fazia inúmeros planos, corria atrás de todas as maneiras possíveis para torná-los mais próximos da realidade, mas talvez ela estivesse esgotada e cansada de ir adiante só aparentemente, e na verdade estar parada, estacionada na mesma esquina desde sempre. Talvez ela não tivesse até então a consciência de que aquilo tudo pouco valia, àquela altura, porque ela era a mesma menina que jogava bola na rua e voltava pra casa só depois do anoitecer, com a cara suja de terra. Talvez seus objetivos e sua postura de mulher-adulta-responsável-e-independente fossem a melhor maneira de esconder que ela só queria ainda ser pequena, ir pra casa tomar um banho pra lavar a terra da face e dormir brincando de descobrir personagens ocultos nas sombras que a noite lhe oferecia como companhia. E sonhar daquele mesmo jeito de quando ainda não sabia nada do mundo, e sua ingenuidade e curiosidade infantis a entregavam a cada dia surpresas mais doces e coloridas, o cheiro da grama, da terra, da comida de mãe. Talvez a maquiagem e o salto alto não conseguissem mais mantê-la presa ao mundo das pessoas adultas, talvez ela estivesse perto de fugir dos burocráticos e superficiais apertos de mão que era obrigada a oferecer todos os dias. Talvez sua cabeça estivesse doendo por não saber qual seria a próxima situação que a obrigaria a fingir, o que ela não fazia mais nenhuma questão. Talvez a única coisa que ela realmente quisesse àquela hora era ficar só, comer um algodão doce sentada na grama com os pés descalços e os cabelos despenteados. Sem ouvir nada, sem falar nada, sem pensar em nada, sem precisar preocupar-se com a hora de voltar pra casa. Sem pensar em quem era, no que as pessoas estariam esperando que fizesse. Só deixar o tempo passar, o sol desaparecer, as estrelas uma a uma despertarem até o céu negro estar salpicado e derramado de luzes. Assim ela poderia suspirar, enamorar-se pela lua e redescobrir outras maneira de ir adiante. Dessa vez sim, adulta, mas sem deixar de ser a menina do joelho ralado e das risadas quase gratuitas.
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Não tá pronto. Eu acho.
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Não tá pronto. Eu acho.
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