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O fantasma


Do outro lado da madeira escura da janela
Além do vidro trincado e opaco
Empoeirado e envolto na escuridão de um noturno desespero
Tem alguém que espia
Espia aqui dentro, procurando
buscando o quê?
Quero saber quem é essa figura
que me encara de maneira fria
Mesmo na quente noite estrelada
sem lua e sem senso.
Meus olhos não se libertam
da inquisição daquele olhar lento e fosco
Quem será, que tem olhos tão covardes?
E que imita - ou prevê - meus mínimos movimentos
o suspiro, a lágrima, o sorriso forçado, o soluço.
Quem és, estranho? Que queres aqui?
Não queres entrar pra tomar um café?
Não responde. Limita-se a acompanhar minhas palavras,
seus lábios movem-se junto com os meus.
Quem és?
Responde, quem és?
Vai embora, então. Deixa-me!
Sei que deveria conhecer-te, mas não!!
Não sei quem és!
Voa pra longe, aproveita que podes.
Não quero mais saber quem és.
Deixa-me só, com minha confortável ignorância.

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