É engraçado pensar que existem certas coisas que, mesmo passada a vida toda, nunca mais vão ser esquecidas. Mesmo que fiquemos caducos, com a memória fraca e com o raciocínio lento, elas estarão sempre frescas na memória. Não sei se engraçado, mas curioso certamente é. Tenho absoluta certeza que nunca vou esquecer das coisas e pessoas que me marcaram por causa do cheiro, porque tenho quase uma obsessão por ele, e essa fixação faz com que eu diretamente ligue um cheiro reconhecido à pessoa que o possui. Não que considere isso ruim, mas por que justamente o olfato? Posso não lembrar do rosto, da voz, de quase nada, mas o cheiro me transporta diretamente pra ocasião em que o senti. Sendo ela boa ou má. E, tanto em uma quanto em outra, é quase como se aquilo estivesse se repetindo. Por mais que muitas vezes a situação não seja das mais agradáveis, essa minha "habilidade" (como poderia chamar isso?) agrada na maioria das vezes, porque a sensação nesse "dèja-vu" (é assim que se escreve isso?) é bem realista e, como as sensações boas acontecem com mais intensidade, justamente por eu dar mais atenção aos cheiros que me fazem sentir bem, então vale a pena cada lembrança, cada memória olfativa, cada minuto dedicado a lembrar, fechar os olhos e reavivar aquele pequeno pedaço de vida que ficou lá atrás e deixou só a sensação boa de uma fração válida do tempo que usamos pra envelhecer.
Medo cedo do dia. Via, rua, movimento, atropelamento. Vento. Esquecimento. Sofrimento. Arrependimento, consequência. Vivência, inteligência, violência, violência. Do mundo, da sociedade, da realidade, do destino. Da vida. Lida. Canseira. Brincadeira, brincadeira boba. Assalto, sol alto. Fogo. Água. Mágoa. Tristeza, solidão. Desilusão. Repetição. Rotina, mudança, diferente. Gente. Bicho. Criatura imaginária. Imaginação, loucura. Altura, futuro, casamento, amor, ódio. Separação. Procura. Desemprego. Fome. Medo. Do escuro. Da noite. Da morte. Do homem. Do medo. . . Achei esse poema que tinha escrito quando ainda tava no 2º ano do Ensino Médio. Tirando o patético título original "os medos que se tem" (ai) gosto dele até hoje, então vou deixar sem título mesmo, ao menos por enquanto. Eu escrevia direitinho na época de colégio, acho que emburreci na faculdade.
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