É engraçado pensar que existem certas coisas que, mesmo passada a vida toda, nunca mais vão ser esquecidas. Mesmo que fiquemos caducos, com a memória fraca e com o raciocínio lento, elas estarão sempre frescas na memória. Não sei se engraçado, mas curioso certamente é. Tenho absoluta certeza que nunca vou esquecer das coisas e pessoas que me marcaram por causa do cheiro, porque tenho quase uma obsessão por ele, e essa fixação faz com que eu diretamente ligue um cheiro reconhecido à pessoa que o possui. Não que considere isso ruim, mas por que justamente o olfato? Posso não lembrar do rosto, da voz, de quase nada, mas o cheiro me transporta diretamente pra ocasião em que o senti. Sendo ela boa ou má. E, tanto em uma quanto em outra, é quase como se aquilo estivesse se repetindo. Por mais que muitas vezes a situação não seja das mais agradáveis, essa minha "habilidade" (como poderia chamar isso?) agrada na maioria das vezes, porque a sensação nesse "dèja-vu" (é assim que se escreve isso?) é bem realista e, como as sensações boas acontecem com mais intensidade, justamente por eu dar mais atenção aos cheiros que me fazem sentir bem, então vale a pena cada lembrança, cada memória olfativa, cada minuto dedicado a lembrar, fechar os olhos e reavivar aquele pequeno pedaço de vida que ficou lá atrás e deixou só a sensação boa de uma fração válida do tempo que usamos pra envelhecer.
Balada de Agosto Lá fora a chuva desaba e aqui no meu rosto Cinzas de agosto e na mesa o vinho derramado Tanto orgulho que não meço O remorso das palavras Que não digo Mesmo na luz não há quem possa Se esconder do escuro Duro caminho o vento a voz da tempestade No filme ou na novela É o disfarce que revela o bandido Meu coração vive cheio de amor e deserto Perto de ti dança a minha alma desarmada Nada peço ao sol que brilha Se o mar é uma armadilha Nos teus olhos (Zeca Baleiro)
Comentários